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Mestra Tenie dos Pisca-Piscas. Touro, INFJ, 4w5. Nerd e CDF. Chorona e fortona.
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BoJack Horseman
written by Tenie at quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Oi, gentem! ^^/ Tudo certo?
Por aqui, eu estou sobrevivendo. Só sobrevivendo.
Pra não começar a falar de mim, decidi falar de um desenho que eu vi nesses últimos dias e que me conquistou. Senta, que o desenho em questão é uma grata surpresa - principalmente pra mim. Nem eu achei que fosse gostar dele!
Hoje vou falar de BoJack Horseman, desenho original da Netflix, criado por Raphael Bob-Waksberg e com o design da Lisa Hanawalt. Eu li em algum lugar, e eu vou me esforçar pra achar o link, que a ideia da série meio que nasceu do fato de Hanawalt desenhar muitos animais engraçados antropomorfizados e isso meio que inspirou o criador. Ou qualquer coisa assim.


BoJack é um daqueles desenhos "adultos", cheio de humor negro e temáticas tensas (eu vou retomar isso já), e eu só assisti a ele porque eu fiquei muito curiosa. Por motivo nenhum, eu só quis ver.
Confesso, desenhos desse tipo me enojam e eu não tenho nem saco pra me propor a assisti-los. Eu acho, sim, as piadas gastas e vazias, e tenho a impressão de que entrou-se numa época do chocar por chocar. Talvez eu pense isso porque eu tive uma experiência ruim com Simpsons e Family Guy (e toda a programação nojenta do Não Perturbe, do FX), apesar de, pensando agora, eu gostar muito de Futurama e Bob's Burger.
Eu achei que ia odiar Bojack, porque ele me passava muito uma vibe de Californication e Two and a half men, onde toda a história gira em torno do pinto do protagonista e todo o resto é mal feito, especialmente as mulheres, mas tinha que tirar a prova dos nove ou dos cinco. E, de fato, há momentos em que essa animação tem insights dessas duas séries (Na verdade, eu tenho um problema com Two and a half men, mas eu ainda vou ver Californication, porque eu tenho esperanças que, por ser dramática e ter o David Duchoviny e o título fazer referência à música do RHCP, a série seja boa).
Eu estava esperando uma coisa assim de BoJack Horseman. Eu estava esperando personagens pelos quais eu seria incapaz de empatia, com as mesmas piadas falocêntricas e gastas, mulheres que só existiriam para cair de amores pelo protagonista... E, de fato, em alguns momentos, a série foi bem babaca, mas, no geral, a série não foi nada disso. E olha que, pelo protagonista ser um cavalo, as piadinhas falocêntricas seriam a primeira aposta de muuuuito diretor por aí.
Porém, quando eu vi, eu estava vendo dois ou três episódios por dia, e esperando que nunca acabasse. Apesar de a série me machucar, não por subestimar minhas capacidades, não por me representar mal e porcamente (Princess Carolyn e Diane são personagens que eu realmente aprecio, mas eu acho que o BoJack é o meu espírito animal mesmo), não por me tratar como idiota, mas por me trazer situações tão desesperadoras e casuais que eu não poderia evitar de me relacionar e me identificar com elas.
Vamos à história, então.
BoJack Horseman já foi muito famoso. Na cabeça dele, na verdade, ele ainda é super-famoso e importantíssimo. Para BoJack, BoJack é o bonzão. Isso tudo porque, na década de 90, ele esteve no popularíssimo SitCom Horsin' Around (TRIVIA: To horse around, segundo o que eu li, seria tipo... Brincadeira de mão ou qualquer tipo de brincadeira rude ou estuprar alguém segundo o Urban dictionary, essa maldita negação da internet. Uma coisa que nunca dá certo, igual à série do BoJack após a nona temporada ou algo assim. Na série, isso é usado no sentido de "Brinks", btw), que era escrito e dirigido pelo seu melhor amigo, Herb Kazzaz. Na série, BoJack era um cavalo solteirão que acabava virando tutor de 3 crianças humanas e, assim, eles viviam muitas aventuras, enquanto aprendiam e cresciam juntos. (Isso me fez lembrar coisas como Três é demais, mas ninguém nunca disse qual foi a verdadeira inspiração por trás disso). 
Porém, 20 anos depois, BoJack virou um has-been. Se o wannabe quer ser conhecido e famoso, o has-been já foi conhecido e famoso, mas, agora, ele caiu no limbo dos artistas, onde ele não é completamente esquecido, mas também não é lembrado! Ele é o famoso quem,  "AQUELE CARA, SABE? AQUELE CARA DAQUELA SÉRIE! OU SERIA FILME?". Sim, para seu universo, ele "não é aquele cavalo de Horsin' Around?" - o que mata BoJack, porque ele se acha simplesmente incrível e fantástico... Ao mesmo tempo em que ele se acha um lixo. Altas piadas sobre has-beens e esses atores que têm pequenos papéis em tudo quanto é série, mas nunca são realmente conhecidos.
BoJack, apesar de rico, quer voltar aos holofotes. Até porque, ele precisa sustentar Todd, um humano que, um belo dia, dormiu no sofá dele após uma festa e nunca mais saiu de sua casa (O que me fez relacionar BJ ao Charlie Harper, do Two and a half men, que eu odeio. Mas só no começo. Depois eu percebi que o BoJack, na verdade, tem uma alma e foi bem escrito, ao contrário do Charlie, que foi mal escrito e mal atuado pelo Charlie Sheen, que eu também odeio). A diferença é que Todd, além de ser realmente fofo e positivo, ama e admira BoJack de coração, apesar do cavalo só dar coice (Sim, essa piada é de propósito) no coitadinho. Depois, a gente percebe que BoJack, apesar de ser filho da mãe, também gosta do Todd. TRIVIA: Todd é dublado pelo Aaron Paul, do Breaking Bad.
Só que, aparentemente, a única saída para BoJack é escrever sua biografia e estourar com as verdades secretas sobre a vida de celebridade. Ninguém quer isso mais que Princess Carolyn, sua agente e ex-namorada, que é a única pessoa gata cor-de-rosa que realmente trabalha na história, e Pinky, o Pinguim dono da editora (Pinguim, Penguin... Sacaram? A série me ganhou nessa), que está falindo, porque "ninguém lê mais livros!". A degradação financeira do coitado do Pinky é muito engraçada. Porém, os dias voam e nada de Bojack entregar o livro... Então, Pinky lhe indica Diane Nguyen, uma escritora fantasma - e Princess Carolyn o pressiona até que ele aceita.
E a primeira temporada toda gira em torna do processo de desenvolvimento desse bendito livro. Aliás, muito importante, ainda nos anos 90, houve outra série, a Mr. Peanutbutter's House era um sitcom sobre um cachorro solteirão que adotava gêmeas (Zoe e Zelda, TRIVIA: inspiradas na série Irmã ao quadrado)... E daí temos o pseudo-nemesis de BoJack, Mr. Peanutbutter, um labrador ainda bonitão e extremamente animado. BoJack o detesta, mas o cachorrão o adora (o que leva a cenas muito hilárias). Mr. Peanutbutter é um cachorro mesmo, todo feliz e amigável, que é, justamente, namorado de Diane - uma das pessoas mais pessimistas da história toda.
Aliás, amo quando os bichos da série agem como bichos - o que acontece muuuuito mais com o Mr. Peanutbutter, que arruma treta com o carteiro e levanta as orelhas quando alguém toca a campainha ou bate à porta.
Falando nisso, a série não se poupa dos trocadilhos e piadas usando animais, mesmo em sua segunda temporada, quando ganha um tom ainda mais pessimista. E também não se furta de um bom e velho Chekov's gun (Que é aquele objeto que está na cena e tem algum destaque, justamente porque ele logo mais vai ser usado).
Essas são duas coisas que eu gostei muito na série. Ela tem continuidade, nada é esquecido e tudo será usado mais tarde (mais ou menos como na vida, onde aquilo que você faz causa algum impacto na sua vida). E as inofensivas piadas de animais (Como colocar uma coruja pra falar "Who? Who?" duas vezes, por exemplo) são simplesmente fantásticas - e eu recomendaria ver em inglês, se você tem facilidade em entender inglês, porque se você é só leitor de legenda, vai perder os detalhes cuidadosos e hilários que são colocados em cena. [EDIT: Fui ver em português também. As vozes estão perfeitas, exceto pela voz do Todd, que ficou muito forçada e meio ruim, mas, de resto, trabalho excelente. Só que muitas piadinhas e trocadilhos se perderam... Mas eu adoro como o BoJack diz "Minha Virgem" toda hora... Ele virou devoto de Nossa Senhora, mas tudo bem, tá engraçado hahaha]
É um mundo onde bichos antropomorfizados e humanos convivem normalmente e, em momento algum, os humanos são "o que há de normal". Há referências frequentes a produções reais (Como Secretariat, que vira um herói de BoJack, e uma referência muuuuito bacana a Orange is the New Black) e vários cameos de pessoas reais (Como Margo Martindale, outra dessas atrizes que estão em várias produções e que nós nunca lembramos o nome, David Boreanaz, Mila Kunis e até o Paul McCartney - que realmente dublou a si mesmo). E vocês sabem que, todos os atores que fazem aparição na série e não são dublados por eles mesmos têm um destino ruinzinho. Que o diga Andrew Garfield, que terminou quebrando todos os ossos do corpo na animação. (Nenhum deles morreu, btw)
Altas críticas sobre o mundo, sobre o que fazemos pela fama, sobre como negligenciamos uns aos outros... A série é um baita abismo, só que, ao invés de só te olhar quando você olha para ele, o abismo fica te encarando. Como alguém disse no Tumblr, não é uma série boa pra ser vista quatro da manhã, em meio a uma crise existencial. Por outro lado, a série, pra mim, foi uma provocação e um consolo ao mesmo tempo. Provavelmente eu vou revê-la logo.
O universo da série é extremamente pessimista e cruel. Nada nunca dá certo e, quando dá, não é por muito tempo. O mundo esmaga os personagens e, apesar de rirmos disso, há aquela sensação de identificação profunda. BoJack foi uma série que me fez rir e, depois de 5 minutos, perceber o que rolou e começar a chorar.
Os personagens são, pasmem, complexos. Até o Mr. Peanutbutter, que é todo feliz e fofo, o mais puro de todos ali, foi capaz de fazer canalhices para se favorecer. Até a Diane, que era toda decidida e firme, teve sua recaída e passou a mentir e se acabar... Enfim, acho que a premissa principal da série é que, de fato, somos todos pessoas ruins - mas isso não significa que não sejamos capazes de coisas boas ou que não mereçamos compaixão.
E você consegue ver o nosso mundo perfeitamente replicado na cansativa Hollywoo (ex-Hollywood. Não vou dizer porque).
Meus episódios favoritos são aqueles focados na Princess Carolyn (especialmente o da primeira temporada). Porém, eu tenho uma conexão espiritual com o brutalmente verdadeiro e sincero "Hank after Dark". Esse episódio simplesmente jogou as verdades na cara de todo mundo e, no final, eu estava tão chocada e tão triste que eu precisei parar de ver a série (Não apenas pelo plot principal, da Diane, mas pelo plot B do Todd, que foi incrível).
Eu não diria que a série é Sexo, drogas e Rock n' Roll, porque eu achei que a série é bem mais puxada pro folk do que pro rock (e nem tem tanta referência a sexo assim). Mas, de fato, o abuso de drogas é meio pesado.
Por falar em folk, o encerramento e a abertura da série foram compostas exclusivamente para a história. A abertura é uma sequência muito bacana e vale muito a pena ver - o cenário, aliás, vai mudando conforme vão ocorrendo mudanças na história e isso é fantástico. O encerramento, no geral, é sempre o mesmo e se refere ao BoJack. Porém, em vários episódios, o encerramento muda e fala sobre o que aconteceu no episódio. É uma musiquinha chiclete que eu adoro, aliás. Ambos será colocados abaixo. Por favor, deem o play!



Os personagens não são completos esteriótipos de si mesmos... Eles vão sendo construídos e delineados conforme a história segue.
Como o próprio Aaron Paul diz em uma entrevista (Veja aqui, legendado em pt), a série é errada em todos os sentidos e, ainda assim, consegue momentos em que há uma exposição de sentimentos realmente muito sincera - e, talvez por isso mesmo, muito brutal para quem vê.
Basicamente, eu acho que a série (chamada de Comédia do Desespero por algum jornal que eu li, junto de Rick and Morty, que eu preciso ver) consegue algo que é difícil até para "produções sérias": criar pontes que permitem ao público criar laços e empatia por personagens abertamente babacas - e, ainda mais difíceis, babacas de um jeito comum, como eu e você e qualquer outra pessoa.
Então é. Eu gostei muito da série e super-recomendo. A temporada 3 sai em 2016 *chora*.
E é isso.
Enfim, cuidem-se!
Bom restinho de semana!
Kisus, kisus.

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